Suellen Romero superou as dificuldades ao fundar a Ligue Lead. Em dois anos de atuação, empresa já atendeu 3 mil clientes

Suellen Romero sempre buscou a independência financeira. Desde a adolescência, apostou no empreendedorismo e conseguiu trilhar o seu caminho com a venda de produtos importados, até que a concorrência apareceu e a empresa deixou de ser vantajosa. Ela tentou novos caminhos, mas perdeu tudo – e acreditou ter perdido também a capacidade de ter boas ideias de negócios. Mas estava errada. Romero deu a volta por cima ao fundar a Ligue Lead, startup de automação de contato entre infoprodutores e seu público. A empresa faturou R$ 20 milhões em 2022.
A empreendedora trabalhava em um instituto de treinamentos quando a pandemia começou. As aulas, que eram presenciais, precisaram ser transferidas para o ambiente digital, e ela se deparou com uma dor muito comum no mercado de cursos online: os interessados se inscrevem para participar, mas não aparecem no dia marcado. Os números do dia a dia mostravam a realidade. Mais de 100 mil inscritos poderiam demonstrar vontade, mas menos de 5% participavam, o que impactava as metas.
Com um curso prestes a acontecer, uma situação do cotidiano deu o estalo que motivou a criação da Ligue Lead. “Recebi a ligação da recepcionista para confirmar uma consulta médica da minha filha no próximo dia. Percebi que as pessoas combinam de comparecer, mas precisam ser lembradas”, explica Romero. Ela decidiu colocar a ideia em prática: utilizou discadores automáticos para ligar para os 40 mil inscritos nas aulas. O resultado: conseguiu sair de 3 mil participantes para 6,5 mil.
Romero, então, começou a participar de feiras para vender a solução — que ainda não tinha nome ou tecnologia proprietária — e se aproximar de donos de comunidades de empreendedorismo digital, que trariam potenciais clientes. O empreendimento usava cerca de 20 discadores automáticos, até que Romero investiu capital próprio para criar o MVP da solução, em 2021. Hoje, após reaplicar os lucros em tecnologia e infraestrutura, a empresa tem uma plataforma digital e uma operadora de telefone própria, capaz de suportar a quantidade de chamadas diárias.
Para lançar infoprodutos, a estratégia mais comumente usada é fazer ofertas por um período específico e ativar pessoas interessadas, que normalmente fazem cadastros em que autorizam receber lembretes e notificações. É nesse momento que entra a Ligue Lead. A empresa oferece ligações automáticas, com mensagens que podem ser gravadas pelos próprios criadores de conteúdo. “Em vez de disparar e-mails, encontramos uma forma de comunicação mais efetiva. Não prometemos venda, porque isso depende do orador, da qualidade da aula e do próprio público. Mas prometemos o lembrete”, afirma Romero. Entre os clientes estão Erico Rocha, Maira Cardi, Paulo Vieira e Camila Farani. A startup vende pacotes de créditos, que são debitados a cada ligação atendida pela lista de inscritos. Os SMSs de lembrete são cobrados a cada envio.
Empreendedora raiz
Romero começou a pensar sobre trabalho ainda muito nova. Enquanto o lado materno da família sempre teve empregos com carteira assinada, o paterno é empreendedor. Ela conta que cresceu na empresa de brindes personalizados do pai. “Percebi que os esforços e os desafios são similares, mas para mim ficou muito claro que eu não ia trabalhar para ninguém, era inadmissível”. A vontade de ser independente e ter mais liberdade – por causa dos pais rígidos – indicavam que ela precisaria ganhar o próprio dinheiro para ditar o seu caminho.
Aos 12 anos, vendo a movimentação na empresa do pai por causa da obrigatoriedade de kits de primeiros socorros nos carros, ela decidiu vendê-los nos semáforos de Campinas, interior de São Paulo, onde morava. O pai emprestou três kits, dos milhares que produzia, e a acompanhava nas vendas, em avenidas movimentadas. “Eu não tinha noção do que eu estava fazendo de fato, mas foi um caminho sem volta para perceber como empreender era uma boa ideia e perder a vergonha da exposição”, relembra.
Ela seguiu trabalhando na empresa até os 16 anos, quando descobriu que poderia abrir o próprio negócio se fosse emancipada. A proposta foi negada pelos pais, mas ela convenceu a mãe a criar um CNPJ para que ela pudesse importar produtos da China. A ideia era fornecer personalizados que os clientes pediam — como canetas e garrafas de água — que seu pai não produzia. Ela tocou a empresa até os 23 anos, quando a importação de produtos chineses se tornou mais comum. “O que eu vendia com 500% de lucro, caiu para 30%. Não tinha maturidade para lidar com a concorrência”, pontua.
A situação ficou ainda mais difícil depois do nascimento dos filhos. Ela chegou a tentar vender frutas higienizadas em porções para outras mães, mas não encontrou clientela. Pivotou e ficou um ano em esquema B2B, mas as contas ainda não fechavam. Romero acreditava que teria outra ideia genial, porém não foi isso que aconteceu – ao menos, não naquele momento. “No primeiro mês sem dinheiro, travei. Meu marido entrou em depressão e eu ia ter de resolver sozinha. Vendi apartamento, carro e fui morar de favor na casa da minha sogra”, conta.
Ela passou a sair de casa diariamente em busca de R$ 50: fazia faxina, frete, qualquer coisa que aparecesse. Até que um dia entendeu que precisaria fazer o que jurou que não faria: ter a carteira assinada por um empregador. Trabalhou por alguns meses como vendedora em shopping e em uma revista. Pesquisando na internet por formas de trabalhar online, encontrou os cursos digitais. Por um ano, ajudou no lançamento de infoprodutos para criadores de conteúdo, até que entrou no instituto de treinamento onde teve a ideia para a startup.
Em dois anos de história, a Ligue Lead já soma 3 mil clientes e encerrou 2022 com faturamento de R$ 20 milhões – com a meta de dobrar o número neste ano. No futuro, Romero pretende captar dinheiro para investir na empresa e realizar a expansão para outros países da América Latina. “Pretendo fazer com bastante responsabilidade. Não estamos desesperados por capital para aceitar dinheiro de qualquer fundo. Sou uma pessoa livre e pretendo continuar sendo”, finaliza.